terça-feira, 17 de abril de 2012

Memórias de uma mente com heranças...

Lançar um olhar nessa práxis chega a ser sinceramente mágico...
O sistema que me envolvi, tudo ali, privado e público a co-existir...
Uma hora o bônus de uma autonomia em ousada maestria...
Outrora, quanto ônus medindo misericórdia-sabedoria...
Foram tantos passos saltitantes nessa minha história militante...

Um salto na Saúde, um programa por Mais Vida alude...
A lidar diretamente com o humano, inclinada no cotidiano...
O espaço convidava ser macro, existia um experenciar de fato...
Em cada rosto, passo a passo, urgiam nuances em forma de laço...
O vínculo era ético, além do estético, uma arte em mistérios...

Pois os elos eram construídos, em falas, gestos de convívio...
Realçava a categoria, ATenciosamente presente no labor ia...
Em nome de uma prática que dizia “sim” ao inusitado refletir...
Simbolizava um espelho social, uma luta antimanicomial...
Agora, lá era morada, uma Casa pelo bem-estar SUStentava...

Ah, muitas confluências estavam, de perto, dialogicamente agindo...
Uma verdadeira co-ação mediava cada sintonizada intervenção...
Grupo-individualmente, o sujeito era chamado participativamente...
Subjetividades dando mãos, interdisciplinaridade urgindo comunhão...
O estar junto naquela missão ressignificava o plural do cuidar em questão...

Como cuidadora que ativamente fui, hoje, esse Nós me possui...
A escuta profissional tomou uma dimensão dia-noite sem igual...
Digamos que o público habitado entrelaçou o privado-guiado...
Um guia sem instruções incita a acessar o que ficou a tatuar...
A mágica antes sinalizada vem do potencial à criatividade avançada...

Numa dinâmica que a muitos espanta a mente...
Acompanhar permite um olhar po-eticamente...
Não é só poesia, há percalços nessa travessia...
No meio, seres políticos estão fazendo o caminho...

É inevitável sentir a terapêutica desse ninho...
Imbricada num saber-fazer pelo vividamente...
O vivo da mente estava a questionar o óbvio...
Naquele contexto, linearidade não tinha foco...
Vai além do convencional, supervisão é essencial...
Situacional em xeque, o dinâmico se aquece...

Calor numa desordem estrutural, surpresa eclode no real...
Eloqüentemente vibrante, a alteridade é contagiante...
Em descobertas errantes, arriscar-se segue incessante...
São lances, foram chances: casamento de relance...
A aliança era invisível, bem vindo imprevisível...

Digo e repito o ali e o agora que revivo...
Revigoramento singelo ao revisitar o que é b-elo...
Na colheita dessas heranças, sensação de mudanças...
O novo faz parte desse palco pra quem é artista sem salto...
Vai, vamos, esse vôo é bem alto: esperança é um contrato!



(Reflexo da minha experiência, como Acompanhante Terapêutica - AT - numa Casa do Meio do Caminho, tratamento de álcool e outras drogas, da Prefeitura de Recife. Em publicação no artigo da psicóloga Rossana Rameh na ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS - Revista de Cultura UFPE, V.28 - N 9 DEZ 2011)

por Mariana GomesF. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quem espera sempre alcança?!

E o que fazer com as expectativas, aquelas esperas por desejos de mais vida produzida?! Nas idas e vindas com os sonhos alados, as esperanças ganham tons rebuscados. Um bocado de fitas coloridas a querer embelezar até algumas feridas. E num é que a fera se recompôs ao ouvir “não” da espera que se foi. Como se ela fosse singela, só porque queria lhe daria trela? Coitado do que projeta muito nessa real tela, na doçura da ilusão se congela. Com o doce às avessas, insiste em procurar sem deixar que apareça. Aquela paz da surpresa não vem; como é difícil desativar o que de velho tem. E o novo bate à porta, desfila, desliza e depois volta. Volta e meia vai passando, mas alguém está saboreando? O sabor se acomodou quando só quis ver o que ele mesmo projetou. Aqueles projetos num campo reto, e o que dali sai, fica incerto. Certamente não há de fato existir, ainda clama por espaço para chegar assim: singular, no ar, simples na sua maneira de representar. Afinal, esse presente que não se esperou, ganhou o verdadeiro status de surpresa e se apropriou! Propriedade de quem se diz feliz... Algo próprio de um aprendiz. Às surpresas que só são porque não esperadas: SIM!

por Mariana GomesF.